sábado, 4 de fevereiro de 2012

Outro final e um causo


Acho que estou precisando de um herói, ou de uma sopinha.

Estou no aeroporto pra voltar pra Xangai. Eu consegui aproveitar bem a viagem apesar de tudo. 

Há dois dias voltei pra capital de Palau tranquila e relaxada, tanto que resolvi procurar o Lindt.

Não sei bem o que eu queria. Um consolo? Uma explicação? Acho que queria um outro final pra nossa história.  

Fui até a loja de mergulho e ele estava sentado com outros turistas. Pedi pra falar com ele e ouvi um "qual é o problema?" logo de cara.

Aquilo me desmontou. Foi tão frio, tão seco. Eu me segurei e, mesmo com a voz tremendo, disse que quando terminamos foi tudo muito estranho, que eu também tinha sido rude e reagido mal. Ele ficou quieto.

Eu queria ouvir algo dele. Eu não sabia o que dizer, então mandei um "eu não te dei muita chance de falar da última vez. Você quer me dizer mais algo?".

Ele ficou me olhando e finalmente disse "Já falei tudo o que tinha que falar".

Era isso. O fim depois do fim. Falei um tchau meio sem voz e desapareci de lá o mais rápido que pude.

Não foi o que eu esperava mas pelo menos eu tentei. 

Agora mudando de assunto de vez, deixo aqui mais um causo de Palau.

Explicando o menu

Estava eu em um restaurante em Palau e chamei a garçonete:

- Por favor, que prato é esse aqui no menu "torta de morcego-de-fruta"?
- Ah, esse não é torta de verdade não. É mais uma sopa de morcego com uma massa de torta por cima.
- Sopa de morcego? MOR-CE-GO? (eu comecei a fazer uma mímica de morcego, com os dentes de vampiro e as asas abertas e tal)
- É. Esses morcegos de Palau, os que comem fruta. A gente lava o morcego e joga na panela da sopa. Inteiro, com os pelinhos e tudo. Daí na mesa a gente arranca a pele na frente do cliente.
- E é bom?
- Olha, vende bastante, mas o gosto não é nada de mais não, parece frango.
-     :-o)

Só pra deixar claro: eu não provei a sopa de morcego (coloca "bat soup" no google images pra saber porquê, o prato é muito feio).

Volto em breve com mais notícias, com transmissão da China.

Frô.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Obrigada por me avisar



Os funcionários do hotel são super gente fina e como a ilha é pequena, a gente acaba convivendo bastante, o que dá material para várias histórias.


Episódio 1:

- Ô Dona Frô, eu vi você andando lá pros lados do manguezal hoje. Você viu algum crocodilo?
- Crocodilo? Não, ainda bem que não vi nada não. Porquê? Tem crocodilo praqueles lados?
- Tem, mas não têm perigo não, são tudo crocodilo pequeno, dois metros de comprimento no máximo.
- Aaaahhhh, não têm problema NE-NHUM! Obrigada por me avisar só agora.


Episódio 2:

- Então Dona Frô, a gente sempre masca esses coquinhos aqui na ilha, é um costume nosso. Quer provar?
- Claro, quero sim. Eu ouvi dizer que eles têm um gosto bem forte e dá enjôo.
- Só se você engolir a saliva. O jeito certo é mascar o coquinho e cuspir a saliva.
- Tá, eu provo. Mas só metade.
- Eu vou preparar pra senhora. Nessa metade de coquinho aqui a gente põe um pouco de pasta de coral e enrola em uma folha de pimenta. Tem que mastigar rápido pra misturar os três. Se não misturar bem você pode queimar a língua.
Eu meio receosa ponho o coquinho enrolado na folha na boca e masco depressa. Quando cuspo a saliva, ela sai bem vermelha.
- É assim mesmo, Dona Frô.
- Minha orelha está quente, e meu pescoço, agora minhas costas. Não sinto meus dedos. Minha boca tá dormente. Eu tô falando estranho, parece que tomei uma anestesia. Agora tá passando. Ufa, voltou ao normal.
- Kkkkkkkkkkkk. Isso é normal, por isso que a gente gosta de mascar o coquinho. Agora você já é uma local, Dona Frô.
- Obrigada por me avisar só agora do efeito "normal" do coquinho.



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Céu de Merthiolate


O tempo cura todos os males. Estar em um lugar paradisíaco faz isso acontecer mais depressa. 

Depois do fim do namoro eu e o Lindt ainda dividimos o quarto de hotel por mais um dia. Eu não conseguia nem olhar pra ele. Era muita mágoa. Não nos despedimos. Nossas últimas palavras foram sobre a conta de hotel. Um final bizarro pra uma história maluca.

Eu decidi vir pra Ilha de Carp, onde já tinha uma reserva. Na van, indo pro barco, minha cabeça estava à mil. Vários pensamentos típicos de fim de namoro, como "porque ele fez isso?" ou "será que tudo foi uma mentira?" ou ainda "como pude ser tão burra?".

Entrei no barco e fui apreciando a vista na viagem: centenas de ilhas, mini praias desertas, cavernas, pássaros e a estonteante água claríssima mudando de cor do verde pro azul e pro verde de novo. Um sorriso apareceu no meu rosto e ficou lá, admirado, agradecido pela graça de estar aqui nesse paraíso.

Curti a ilha no primeiro dia e resolvi ir mergulhar no dia seguinte. Não achei que iria, não acreditava que ia me sentir bem: afinal essa estória toda de mergulho começou por causa do Lindt. Mas a mágica aconteceu de novo: o sorriso estava lá, por trás da máscara de mergulho, admirado e agradecido, tranquilo entre as tartarugas marinhas, os peixes coloridos e o som da minha respiração.

Já era fim de tarde quando voltei pra ilha. O céu cor de rosa, em diversos tons. Eu escolhi substituir a auto-flagelação pela cura, e contei com a ajuda da natureza pra isso: do mar, da praia e do céu... efeito merthiolate, tudo se cura sob esse céu!

Frô.