segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A cor do trabalho

"Eu também tenho um sonho, igual ao de Martin Luther King..." (Wilson Simoninha)

Eu sempre evitei de escrever sobre este tema, mas aqui estou. É claro que racismo existe. Eu é que nunca quis deixar que ele atrapalhasse a minha vida, principalmente a minha carreira.

Sou uma executiva. Notem que eu não escrevi "Sou uma executiva negra", porque pra mim a cor da pele não é uma coisa que deveria constar nessa frase, mas, apenas pra constar, sou negra.

Acho o cúmulo gente que se faz de vítima e usa como desculpa o "não consegui porque sou negro (ou amarelo, ou cor de abóbora com bolinhas verdes)". Nunca nada veio fácil pra mim e acho que fiz um bom trabalho me posicionando como uma executiva na área de eventos, não é à toa que estou em uma posição importante, representando o meu país no maior evento do mundo: a World Expo (plim-plim, propaganda de novo, haha).

Então porque estou pensando nisso agora? Li um artigo hoje que me deixou encucada. Um executivo da área de propaganda ouviu a seguinte pergunta de um cliente: "Você é o melhor no que você faz ou você é o melhor negro no que você faz?". Vale passar no blog dele pra ler todo o post (link: http://adage.com/smallagency/post?article_id=145601), mas basicamente ele discursa sobre como buscar sempre o melhor de si independente da cor da pele.

O fato é que eu já estava com várias dúvidas na cabeça hoje e esse texto, e mais uma das centenas de 'conversas sobre o futuro' com o meu chefe, me sacudiram as idéias.

Eu tinha ainda um pequeno receio do que vai acontecer depois da Expo, que termina em Outubro. Meu receio - por incrível que pareça, já que nunca deixei esse papo de racismo me atingir - é que eu sou uma negra lutando por espaço no mercado chinês. Ou melhor, uma "mulher, negra, jovem, vinda de um país do terceiro mundo conhecido por suas mulheres bonitas que dançam samba".

E quer saber o que eu acho disso? Eu vou peitar. Vou tentar sim! Sou brasileira e não desisto nunca.. haha.

Acho que foi isso que inconscientemente sempre me impediu de me matricular em uma aula de mandarim, mas depois do ultimato de hoje (e do meu chefe concordar em pagar metade do custo das aulas), vim aqui escrever este post e já estou de saída para me matricular na escola de chinês.

E claro, depois volto aqui e conto procêis.

Frô.

P.S.: mãe, pra você que está recebendo essa notícia em primeira mão pelo blog, a idéia é que eu fique por aqui mais um tempo. Um ou dois anos, ou até eu receber uma proposta melhor. Vou começar a trabalhar em projetos para a Expo 2012, na Coréia. Seguuuura essa mulher!!! Rs.

P.S.2: o meu segredo para acessar o blogger não está funcionando hoje. Estou usando o segredo n#2, por isso não consigo inserir imagens ou formatar texto, mas volto depois para arrumar tudo.

domingo, 22 de agosto de 2010

Diversão: solução sim!


* tira do blog Mulher de 30


Essa tira mostra um pouco do que eu tenho sentido ultimamente: "tédio".

Que coisa, justo eu, pegar "tédio" (sim, é doença e tem cura!). Sei que não me empolgo facilmente com as coisas, inclusive tenho que melhorar nisso, mas nunca me considerei uma pessoa entediada. Porém recentemente não tenho achado muita graça nas coisas.

Esse final de semana foi diferente. Fui a uma balada no sábado ver um amigo dar uma de rapper. Balada normal, nem tava cheia, mas tinha uma energia incrível. Passei a noite em conversas agradáveis com os meus amigos e, durante a performance de rap, vi todos na pista de dança interagir com o meu amigo. Todos se divertindo.

Como essa balada fica ao lado de outra também legal, fui com um amigo lá dar uma espiada. Mesmo estando claramente mais cheia, o clima era outro: o público parecia um bando de zumbis, meio que se balançando ao som da música. Que diferença!

Agora acabei de vir de uma outra festa. Essa foi em uma balada em um antigo farol. Um prédio super bacana, na margem do rio aqui de Shanghai, uma vista incrível e de novo um bom papo com gente interessante. Apesar das pessoas não estarem se acabando na pista de dança, estava todo mundo tendo uma noite agradável.

Percebi que se por um acaso eu peguei essa tal doença "tédio", esse final de semana eu estava totalmente curada. Acho que a diferença foi que, além da minha pré disposição de me divertir, eu estava na compania de amigos e os ambientes eram favoráveis. Tudo funcionou.

Vou ficar mais atenta e me proteger contra essa doença chata, porque eu não quero ser mais um desses zumbis de balada. E claro que vou sempre dar uma paradinha em toda essa diversão pra passar aqui e contar tudo pra vocês.

Um abraço,

Frô

sábado, 21 de agosto de 2010

A linguagem do sorriso

Sorriso melhora a vida. Você já percebeu como temos o poder de mudar o dia de uma pessoa apenas com o sorriso?


Tudo fica melhor, fica mais leve. Mas o que vemos diariamente é gente carrancuda nas ruas, no escritório, no metrô.


Um amigo comentou que na cidade dele as pessoas ficam carrancudas no metrô para não dar bandeira de que estão distraídas ou são turistas para não serem assaltadas. Não é o cúmulo?


Eu acho que é o contrário: você sorri, atria energia boa, cria uma barreira de proteção em volta de você, uma aura, e afasta todas as coisas ruins.


Hoje eu fui a um restaurante almoçar. O serviço era bom, mas o mesmo de qualquer outro restaurante. Porém, a garçonete me pareceu prestativa, atenciosa. Pensando bem agora, a única diferença é que ela estava sorrindo. Mudou a minha percepção de todo o restaurante, mudou o clima, melhorou a minha refeição: e foi só um sorriso.


Muita gente me pergunta como eu me viro aqui na China sem falar mandarim. No meu bairro é raro achar alguém que fale inglês, então minha única forma de comunicação é o sorriso. E funciona!


Fora que está comprovado científicamente que o sorriso traz diversos benefícios para a saúde.


Faça o teste também: sorria para o porteiro, para o lixeiro, para o motorista do ônibus, para o atendente da lanchonete… até para o seu chefe. Depois volte aqui e me conte como foi.


Um abraço e um sorriso,


Frô


domingo, 15 de agosto de 2010

O prato do dia




Música "O prato do dia", d'O Teatro Mágico. Quem me conhece sabe o que essa música representa pra mim.

Um amor vivido intensamente. Uma explosão. Muita química: "a perfeita combinação, soma de duas metades".

Me identifiquei com a história da música. Um amor sofrido, de seres tão diferentes, porém complementares. "Como arroz e feijão". Sofri com a distância, como na música, quando os personagens "só se encontram depois de abandonar a embalagem".

Apesar de tudo lembro dessa história com muito carinho. Desde então tenho uma imagem na minha cabeça: yin e yang, só que de arroz e feijão. A perfeita combinação. Essa imagem do topo deste post ficou martelando tanto na minha cachola que eu quase fiz uma tattoo.

Antes dessa atitude tão... permanente, resolvi testar na minha parede primeiro. Amilgos e amilgas, o que vocês estão vendo é uma foto da parede da minha sala de jantar. Um adesivo do que eu carregava dentro de mim, e agora virou realidade. E só o São Google Translator pra que eu pudesse fazer o designer chinês ler a minha mente.

Eu gostei. Parece que eu tirei um peso da minha cabeça.

E eu fico por aqui, na China, seguindo, vivendo e amando - sempre!

Beijos,

Frô.

Nota do Editor:
Estou feliz por estar de volta no blogger! Descobri um meio de burlar a censura chinesa. Passei todos os posts do extinto morandonacabeca.typepad.com pra cá. Ainda falta importar os comentários e colocars os marcadores, mas já estou positiva e operante aqui deste apartamento de vista para o mar que é a minha cabeça. De volta ao começo. De volta ao blogger.

A terra do bambú


* Postado originalmente em 10/08/2010 no morandonacabeca.typepad.com

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Moganshan. Mais conhecida como a "terra do bambú".

Esta é uma cidade que fica à 3 horas de Xangai. É onde eu estive no fim de semana passado para descansar... ou tentar descansar.

Fui com a minha amiga alemã. A pequena pousada que escolhemos tinha um excelente serviço de van que nos buscou em Xangai - o que nos salvou de um desgaste de ter que pegar trem+ônibus+táxi para chegar lá.

A pousada era uma graça: simples e aconchegante. Todos os funcionários eram super simpáticos e alguns até falavam inglês.

Quem também nos recepcionou foi um bando de cigarras. Super cigarras, do tamanho de uma bola de tênis. Elas voavam aleatóriamente, batiam nas paredes e caíam no chão. Enquanto eu estava horrorizada com o tamanho e o barulho dos bichos, a cachorra da pousada adorava, andando de lado a lado em busca dos insetos no chão que serviam muito bem como um delicioso - e crocante - petisco antes do jantar. Se você achou nojento, saiba que cigarra frita é um prato típico em Moganshan.

A cidade é um atrativo turístico pelas belas paisagens e pelas trilhas para mountainbiking.

Acordo depois de uma boa noite de sono e aprecio a vista do lugar: muito verde e muito... bambú. A vista fica melhor ainda quando chego à mesa do café da manhã. Sim, os pãezinhos eram bonitinhos, mas mais bonitos ainda eram os homens que estavam hospedados na pousada - esses sim verdadeiros pães. Todos lindos e malhados, com roupas justas de ciclista e pele bronzeada de sol.

Eu embarco na aventura e alugo uma bike. Isso vindo de alguém que só faz exercícios quando tenta comer macarrão usando pauzinhos ou quando arrasta as poltronas no foyer do prédio para tomar um café no meio da tarde.

Não consegui acompanhar o grupo. Apanhei pra aprender a usar as marchas da bicicleta, apesar do meu instrutor ser um amor - um coreano que não falava "r", igual ao Cebolinha -, mas que não falava inglês direito e me dava instruções confusas. Acabei pegando um atalho com ele e chegando ao lago antes de todo mundo. Um lago lindo e com água refrescante.

Voltei pedalando, mas passei mal. Muito calor, quase 40 graus. Aproveitei a tarde para descansar e a noite para fazer mais esportes: levantar copos de cerveja. O álcool não me ajudou muito no jogo de scrabble com os franceses (ou será que me distraía quando olhava para o peitoral deles?).

Na manhã seguinte minha amiga decidiu pedalar morro acima naquele sol escaldante. Eu prefiri fazer outra coisa. Perguntei na recepção o que tinha pra fazer. "Andar de bicicleta, fazer trilhas, pescar ou colher folhas de chá" foi a resposta. Não demorou para eu juntar um grupo de hóspedes, que também não estava afim de fazer nenhuma dessas coisas, para alugar uma van e ir nadar no lago.

Foi um final de semana bem gostoso. Vou procurar outros destinos de esportes radicais para passar meus finais de semana - uma oportunidade para eu estar mais em contato com as belezas naturais (principalmente as do universo masculino).

Um abraço,

Frô


O filme, o livro e a exposição de arte


* Postado originalmente em 24/07/2010 no morandonacabeca.typepad.com


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Notícias da China. Ou melhor, de dentro da minha cabeça, que é na verdade sem fronteiras e não está limitada apenas aqui no continente asiático - muito pelo contrário, minha mente é viajante, muito mais do que eu.

Hoje eu publico um post triplo tratando de assuntos distintos, mas nem tanto:

O filme: Este é um filme muito esperado. O lançamento está previsto para 13 de Agosto nos Estados Unidos e para 01 de Outubro no Brasil - e ainda sem data marcada para estrear na China, mas com certeza eu já vou ter visto DVD pirata antes da estréia, de tão ansiosa que estou para assistir. Estou falando do "Comer, Rezar, Amar". O filme é uma versão do livro de mesmo nome da autora Elizabeth Gilbert. Eu estou lendo o livro no momento e adorando. Trata-se da história de uma mulher que, após um doloroso divórcio, decide passar um ano viajando pelos três "I's"- Itália, Índia e Indonésia - em busca de si mesma, e passando pelas experiências citadas no título: comer, rezar e amar. O livro é uma delícia e é impossível não se identificar com a personagem - na verdade é uma história real, a mulher que se divorcia é a própria Elizabeth, que no cinema vai ser vivida pela Julia Roberts. O filme ainda conta com a participação do meu mais novo ator favorido: Javier Bardem (vocês assistiram "Vicky, Christina, Barcelona"? Ai, ai). Bom, ao invés de ficar lendo sobre o filme, melhor mesmo é assistir o trailer (clique aqui).

O livro: Um dos livros mais polêmicos que já vi. Estou curiosa, mas não sei nem se eu chegaria a lê-lo de tão controvérsio que é. O nome do livro é "Shanghai Girls: Unscensored and Unsentimental" que em português é algo como "Garotas de Xangai: sem censura e sem sentimentos". Li uma entrevista com a autora, Lan Lan, em uma revista aqui da China. O livro é simplesmente um guia para "escaladoras sociais", ou seja, mulheres que se casam somente por interesse, buscando melhorar de vida e dar o golpe do baú. Conversando com várias pessoas aqui na China percebi que esse tipo de comportamento é quase que unânime entre as Xangainesas - pode ser que uma ou outra escape, mas existe um traço cultural muito forte entre as mulheres locais que é sim fácil de se notar: a clara percepção que elas estão sempre atrás de um marido rico. No livro, as lições para se alcançar esses objetivos são bem diretas, como "fique grávida", ou "arranje um primeiro marido temporário, não tão rico, para que você suba aos poucos os degrais da sociedade", ou "tente ganhar o máximo de jóias possíveis, finjindo entrar em joalherias por acaso quando você já escolheu o seu presente previamente", ou ainda "consiga o que você quer dos homens com sexo, eles são fáceis de se ludibriar". Chocante, não? É claro que a crítica está acabando com a autora (nem tudo está perdido!). Discutindo o tema com amigas, realmente não acho que uma mulher que se casa só por interesse seja feliz e acho muito fútil fazer disso o seu grande objetivo de vida. Mais detalhes aqui e aqui.


A
exposição de arte: Fui esses dias a uma um museu aqui em Xangai para abertura de uma exposição sobre arte contemporânea da Indonésia. Não sou tão chegada a museus. As obras eram interessantes, mas nenhuma despertou muito a minha atenção. E durante o (looooongo) discurso de abertura reparei nas pessoas a minha volta e realmente não acho que me encaixo muito neste meio. O que sobrou de interessante da noite foi uma pessoa que conheci, um artista alemão que está aqui a trabalho. Após uma instalação que ele fez no pavilhão da Alemanha, ele está continuando um de seus projetos pessoais: o "amigo grátis". Trata-se de uma instalação por uma semana em um imóvei comercial vazio qualquer em uma rua agitada de Xangai. Dentro do imóvel, ou "loja" como o artista chama, teria somente um número de telefone em um dos cantos, com a frase "amigo grátis". Ele quer estudar a reação das pessoas que ligam para o número e, como já aconteceu com a mesma experiência realizada por ele em cidades da Russia e da Espanha, filmar os encontros com essas pessoas que procuram desesperadamente por um amigo, mesmo que seja esse ilustre desconhecido. Esse é um passo a mais do que o já famoso movimento do "abraço grátis". Interessante, porém, pra mim soa um pouco triste saber que tantas pessoas em diferentes partes do mundo precisam desesperadamente de um amigo a ponto de ligar para o número de um completo desconhecido. Quanta solidão. Prefiro dar boas gargalhadas com minhas amilgas.

Por hora esses são meus pensamentos. Voltarei em breve com mais notícias fresquinhas aqui da terra... dos meus neurônios.

Frô.


Uma questão de curvas


* Postado originalmente em 19/07/2010 no morandonacabeca.typepad.com


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Essa foto ficou na minha cabeça esse final de semana. Saiu nas manchetes de vários sites, inclusive no do NY Times. Ela é o ponto final de uma discussão sobre "Será que a Crystal Renn emagreceu? Ela não devia ter feito isso". Explicando rapidamente a Crystal Renn é uma modelo GG. Ela, como o seu manequim 42/44, é considerada uma modelo gordinha e tem feito muito sucesso, posando para a capa de revistas como Vogue e Elle e até desfilando para a Chanel e Jean Paul Gaultier.


Crystal começou a carreira de modelo com 14 anos e ouviu de muitos agentes que ela precisaria perder muitos quilos. Ela então ficou obcecada por perder peso e acabou doente, com anorexia. Após ter se curado da doença e voltar a um peso saudável, ela aceitou o seu corpo, virou modelo "gordinha" e escreveu um livro sobre a sua história. Com tudo isso ela virou exemplo de auto-estima e luta contra a ditadura da magreza no mundo da moda.

Primeiro: vamos combinar que uma mulher de manequim 42 não é obesa, mas entendo que é difícil ser uma modelo de sucesso com esse peso. Mas o que mais me deixou grilada é como ela foi criticada por supostamente ter perdido peso (a foto acima, à esquerda, mostra Crystal sem 'retoques' e, à direita, mostra uma foto do mesmo ensaio depois de publicada), ou pior, de tanta gente dar tanta importância ao peso dela. Ou de qualquer outra pessoa. Todo dia tem uma notícia de alguma celebridade que está "muito gorda" ou "muito magra" ou saiu numa foto que apareceu a celulite. Esses sim sãos os verdadeiros vigilantes do peso.

Aqui na China quase não se vê pessoas com sobrepeso, principalmente entre as mulheres jovens. E se você perguntar pra qualquer chinesa magricela se ela quer perder peso, você com certeza vai ouvir um "sim".

Outro dia eu e minha amiga européia estávamos caminhando e ela disse que gostaria de ter as pernas como as da garota à nossa frente. Haviam duas garotas: uma devia ser manequim 36 ou menor - e com pernas super finas - , a outra, 40 - com as pernas até que bonitas, mas não tinha as coxas grossas como nós, latinas. Para o meu espanto, a minha amiga se referia às pernas da mais magra. Sério, eram cambitos. As pernas finas dentro do short pareciam dois badalos dentro de sinos. A minha amiga me contou que ela sempre teve vergonha das pernas e ouvia até dos pais que elas eram feias porque eram grossas, com a expressão "pelo menos são retas". Aquilo a deixou traumatizada até hoje, já uma mulher adulta.

Isso não é um pouco demais?

Não vou chegar a nenhuma conclusão nesse post, mas deixo aqui uma frase da Crystal quando ela teve que esclarecer em uma entrevista que todos podiam ficar tranquilos porque ela não tinha perdido peso (acreditam?):


"Hoje, você pode ver um desfile com várias modelos de manequim 34, e talvez uma mais gordinha - isso significa que você realmente prestou atenção no peso da modelo. Bem, imagine um desfile com modelos de biotipos diferentes: baixas, altas, negras, brancas, asiáticas, todas juntas. Você só verá mulheres bonitas. Não haverá mais discussões sobre peso. Acabou. Essa é a minha visão para a indústria da moda. Talvez você diga que é um sonho muito grande, mas eu não ligo. Eu tenho que acreditar que o que eu digo é importante."

É isso. Vou indo. Já está tarde e eu vou colocar meu corpo cheio de curvas na cama.

Beijos,

Frô.

Mulher Apaixonante

* Postado originalmente em 17/07/2010 no morandonacabeca.typepad.com

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Com a correria do dia a dia, trabalho, chefe, contas pra pagar e outras coisas chatas que acontecem nas nossas vidas, muitas vezes nos esquecemos da arte da conquista. Acho importante nos esforçamos para não nos deixarmos no piloto-automático e marcar presença, se fazer notar.


Seduzir é importante. Seja você solteira, casada ou enrolada. Por experiências pessoais, filmes e textos que passaram por mim quando mais precisava - principalmente do grupo "Mulheres Apaixonantes" (que agora é um blog e você pode checar todas as dicas para se tornar uma mulher apaixonante aqui) - coloquei abaixo alguns pontos principais como um mini guia para o dia a dia:

- Pare de reclamar - esse é o primeiro passo, e pra mim, o mais importante. Não existe um maior repelente de gente do que reclamação. Não dá pra ser uma mulher apaixonante e reclamona, não combina. Antes de falar qualquer coisa, pense se é uma coisa positiva.

- Tome cuidado com suas amizades -
o ditado é verdadeiro: "diga-me com quem andas...". Gente negativa atrai coisa ruim. Agora que você já parou de reclamar, analise as pessoas que estão a sua volta. Não falo pra ignorar aquele seu amigo que está passando por uma fase difícil, estou falando daquelas pessoas que estão sempre carrancudas, pra baixo. Mulheres apaixonantes estão cercadas por pessoas apaixonantes.

- Se ame e se cuide - se arrume mesmo que seja pra comprar pão. Nada de sair de casa de moletom, a não ser que você vá pra academia. 5 minutos a mais se arrumando vai fazer diferença no seu dia inteiro. Não precisa ser nada exagerado ou sexy - apenas saia arrumada. Um perfume e um batom irão finalizar o look.

- Faça GOLS - Gire os Ombros, Levante a cabeça e Sorria! Postura e sorriso, isso sim é uma excelente combinação. Faça um teste, simplesmente caminhando na rua. Faça GOLS e observe como as pessoas te olharão de maneira diferente.

- Olhar conquistador - o olhar de "eu quero você" é tiro e queda. E funciona mesmo. Olhe fixamente para os olhos da pessoa que quer conquistar e pense "Eu quero você". Pense e diga com os olhos.

- Entenda as diferenças - muitos livros já foram vendidos sobre o assunto. Homens e Mulheres são diferentes e ponto. Entender isso já é meio caminho andado. Um amigo me falou que a namorada dele tentou fazer ele ler o livro "Homens são de Marte e Mulheres são de Vênus" para 'ajudar na relação' e ele largou o livro pela metade. E eu perguntei: 'Ela leu o livro antes de te pedir pra ler?'. Erro clássico. Ler livros para ajudar no relacionamento não é algo que os homens gostam de fazer! E por aí vai, vale ler aqui um trecho do livro "Homens Fazem Sexo e as Mulheres fazem Amor?".

Existem muitas outras dicas, mas o importante mesmo é lembrar que é preciso conquistar todos os dias. Todos os dias. TODOS OS DIAS. E isso se aplica não só em relacionamento homem-mulher, mas com seus amigos, colegas de trabalho, chefes, clientes... para melhores resultados, conquiste todos eles todos os dias.

Com certeza terei mais em breve sobre o assunto.

Beijos,
Frô.

Farejando emoções

* Postado originalmente em 10/07/2010 no morandonacabeca.typepad.com

Já fui e já voltei. Cheguei do Brasil há dois dias e já a todo vapor aqui em Xangai.

A viagem foi ótima, pude ver amigos, família, sair, curtir, comer e torcer. Saí de balada em Sampa, assisti o jogo do Brasil X Chile (o único jogo que prestou na Copa) lá na Vila Madalena, fui em festa junina, assisti ao show do Max e Simoninha, visitei parentes e comi o que eu estava com vontade: doce de leite, manteiga Aviação, salsicha, purê, pernil, feijoada, torresmo, caldinho de feijão, pão francês... tudo acompanhado de bastante chopp.

É claro que na minha vida nada acontece sem emoção, dá uma olhada:

- Saindo da China

Estou eu no escritório tentando fazer o check-in online no site da Qatar sem sucesso. Liguei pra compania aérea e recebi a notícia-bomba: a minha passagem tinha sido cancelada! Acontece que minha amiga comprou a passagem pra mim em um site alemão, que me mandou um e-mail pedindo pra confirmar os dados do cartão de crédito - em alemão! Eu achei que era propaganda e nem liguei para o e-mail. Daí foi uma correria de última hora para comprar outra passagem pelo site, já que a Qatar não tem balcão de vendas no aeroporto, e bem na hora do meu jantar com um gatinho que eu tô de olho.

Sem stress, fui jantar e deixei a minha amiga - e meu chefe, já que não rolou mesmo comprar com o cartão dela - cuidando da minha passagem. Saí do jantar com um telefonema dizendo "Está tudo certo, mas vai demorar umas duas horas pra confirmarem o débito no cartão".

Vou pro aeroporto de qualquer forma e, faltando apenas duas horas para o embarque, entrego o passaporte pra moça do check-in. Ela olha pra mim e diz que não estava encontrando o meu nome no vôo. Eu já com o celular na mão pra ligar pro meu chefe de novo quando a moça do check-in fala "Nossa, estranho, seu nome acabou de aparecer no sistema" no exato momento que eu recebo o número da reserva no meu celular. Ufa! Isso foi de última hora meeesmo.

Como recompensa o vôo foi excelente: bom atendimento, boa comida, bom sistema de entretenimento, bom kit de vôo (que foi muito útil já que o tampão de ouvidos me salvou de uma criança chorona, além da venda para os olhos, escova de dentes e até um par de meias). Recomendo a Qatar, especialmente pra quem só pode pagar classe econômica e tem que voar insanas longas horas como eu.

- Chegando na China

Aguardando a minha mala no aeroporto de Xangai - finalmente a viagem estava acabando. Na esteira tem dois chineses com um cão farejador - uma linda cocker marrom e branca. Ela cheira as malas e as que ela gosta mais são separadas para inspeção.

Lá vem as minhas malas. Ainda bem, pois depois de 24 horas voando e 11 horas de fuso horário na cabeça eu estava mais do que pronta pra tomar um banho e cair na cama. Eram duas malas grandes: trouxe algumas Havaianas, umas comprinhas de farmácia - incluindo 3 caixas de Diet-shake já que na China isso não existe, acho que vou abrir um negócio de importar Diet-shake e ficar rica -, livros que prometo que vou ler um dia, meu capacete e protetores para andar de patins, minha calça jeans 40 que vai voltar a servir e mais um milhão de coisas que tiveram que vir comigo já que eu não tenho mais casa no Brasil.

Vou pegar as malas e... peraí... ô cachorra, sai pra lá. "Senhola, você tem que passar pela inspeção" diz um dos chineses. "Você tem flutas ou outlo tipo de comida na mala?" continua. Ai, não. Olho para a fila da inspeção e vejo o sonho de um banho e descanso cada vez mais distante. Pior: eles podem confiscar meus diet-shakes. NÃO! Não posso deixar isso acontecer! Vou em direção à fila e, mais rápida que um calango no sertão, despisto os chineses e vou para a porta de saída. E se me pegarem? Será que eu posso ir presa na China por fugir da inspeção sanitária? Já vejo as pessoas segurando as plaquinhas com nomes do outro lado do portão e começo a escutar a musiquinha da São Silvestre no fundo: tã-nã-nã-nã-nã-nan... Cruzo a linha de chegada e estou sã-e-salva em território chinês - eu e meus diet-shakes.

Sei que o post tá longo mas você pensa que acabou? Saio do taxi puxando as duas malas e segurando a porta do prédio com o quadril. Sétimo andar. Coloco a chave na porta e... nada. Tiro e ponho a chave e... nada. ABRE! Abre-te Sésamo... nada. Fala sério! Minha chave não funciona e eu não consigo abrir a porta. Essa cópia de chave Made-in-China é uma porcaria (sim, eu perdi a minha chave há algum tempo, não joguei no lixo não, perdi mesmo).

O chaveiro fica a três quadras do meu apartamento: TRÊS quadras - eu já estou pooodre da viagem. Deixo as malas em frente à minha porta pros anjinhos olharem, pego uma charrete e vou até o chaveiro. Volto de carona na moto velha dele rezando pra ele não soltar um pum. Ele põe um sprayzinho na fechadura, usa suas ferramentas e voi-lá, a porta abriu. Descrobri o problema: eu tinha deixado outra chave na fechadura pelo lado de dentro. O chaveiro me cobra 50 dinheiros e vai embora. Enfim, sós... eu e o chuveiro!


Se você sobreviveu ao post deve ter uma idéia de como eu cheguei cansada. E ainda tive que trabalhar no dia seguinte - fora que eu acordei às 5 da matina! Bendito fuso!

Camel-smooch

Um beijinho lá de Qatar pra vocês.

Até mais,

Frô.

Dois lugares


* Postado originalmente em 23/06/2010 no morandonacabeca.typepad.com

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Indo.

Pro Brasil, em dois dias. É bom voltar pra casa, rever os amigos. Já tenho vários planos, de ir a bares, ver os jogos, ver o show do Simoninha, ver filha da minha amiga (que ainda nem nasceu, vai nascer em dois dias). Também fazer coisas chatas, como ir no cartório, no perde tempo, no banco, no dentista. Faz parte.

Já fiz uma lista de coisas que quero comer. E o regime que espere, porque comida de mãe tem prioridade.

Mas o gozado é que eu nem saí daqui e já estou com vontade de voltar. Eu estou curtindo muito o meu trabalho e me parte o coração não estar no pavilhão no jogo contra Portugal ou pro show da Roberta Sá, que estou produzindo e nem vou conseguir assistir. Também estou ansiosa para começar as aulas de chinês - ok, podem rir, mas depois das minhas férias eu VOU começar as aulas.

O ideal seria estar nos dois lugares, ao mesmo tempo. Brasil e China. Dois lugares tão distantes, mas tão próximos de mim. Já com saudades do meu apartamento (o daqui e o do Brazil, que nem tá pronto ainda). Com dúvidas - e dívidas - na cabeça.

Mas vou relaxar também, vou curtir. Quero passar pelo menos uns dois dias na praia. Quero terminar de ler o "Comer, rezar, amar" - que está ótimo.

Ai, 10 dias, já to vendo que vai ser curto.

Bom, depois eu volto com mais notícias: dessa vez do Brasil.

Inté,

Frô


Dinheiro Sujo


* Postado originalmente em 18/06/2010 no morandonacabeca.typepad.com

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Essa merece uma narrativa:


13:20h - Acaba mais uma daquelas reuniões bem no meu horário de almoço. Não vai dar tempo de comer. Saio correndo do escritório pra pegar o ônibus pra Expo.

13:26h - O próximo ônibus sai daqui a 15 minutos, tempo de eu passar na padaria e comprar alguma coisa.

13:33h - Pego um lanche e coloco na sacolinha que eles dão - até que é bonitinha. Vou pôr minha carteira aqui também, depois eu guardo. Volto comendo até o ponto.

13:39h - Entro no ônibus e aproveito a meia hora de viagem pra ler o "Comer, rezar, amar" que eu tô adorando.

14:10h - Cheguei no ponto final. Vou jogar fora esse lixo aqui do almoço e encontrar os técnicos de produção no portão para entrar na Expo.

14:15 - 19:00h - Dia cheio. Visita de palco, discussão de budget, reuniões. Passei o dia todo ocupada.

19:20h - Saio da Expo. Quero ir direto para o bar ver o jogo da Alemanha. Um amigo me acompanha até o metrô. Cadê a carteira pra eu pegar meu bilhete? Procuro na bolsa cheia de tranqueira. Carteiraaaa, cadê você? Onde eu coloquei? Ah, na sacolinha da padaria. A sacolinha que eu... JOGUEI NO LIXO! No lixo!!! Não acredito: eu joguei fora a sacolinha - aquela que era até bonitinha - com o "lixo do almoço". Ótimo. Perfeito. Muito esperto, Frô.

19:25h - Meu amigo me empresta uma nota de 100 yuan e vai embora. Penso que talvez não tenha passado muita gente naquele ponto de ônibus. Talvez se eu voltar lá, a sacolinha - a que é até bonitinha - pode estar lá, no mesmo cesto de lixo, me esperando.

20:10h - Depois da fila da segurança da Expo e da van, corro até o cesto de lixo: nada da sacolinha. Olho em dois outros cestos próximos (talvez eles tenham trocado de lugar na minha ausência). Nada. Procuro uma das voluntárias da Expo. Ótimo, ela fala ingês. Vamos juntas falar com a faxineira: eu falando em inglês e a voluntária traduzindo para o chinês. Ninguém nos ajuda.

20:15h - Achados e perdidos. Lá vai a santa voluntária explicar tudo de novo. Nada. Chamam o segurança. De novo a voluntária explicando tudo em chinês. No lixo? Sim, meu amigo, no lixo. Sim, fui EU quem jogou a sacolinha branca no lixo, mesmo ela sendo até que bonitinha. Ele começa a anotar as coisas em um caderno.

20:25h - Estamos nos fundos do terminal de ônibus. Eu, a voluntária, dois seguranças, a moça do achados e perdidos, quatro faxineiras e mais três outros chineses que eu não sei o que faziam ali. Lá atrás tinha vários sacos de lixo. Duas faxineiras começam a esvaziar todos os sacos de lixo e as outras duas iam limpando atrás. Nada.

20:40h - Acabaram todos os sacos de lixo. Nem sinal da sacolinha branca. Muito menos da carteira. A conclusão foi que como a sacolinha era até que bonitinha, algum desses catadores de latinha achou a sacola enquanto estava revirava o lixo. E eu aqui com cara de boba e sem carteira.

20:42h - Xie xie, obrigada todo mundo, valeu. Desculpa aí fazer vocês perderem tempo e revirarem o lixo à toa. Um obrigada especial pra santa voluntária.

A história acaba aqui. Não achei a carteira no lixo, nem o dinheiro sujo (desculpem o trocadilho). Ainda bem que eu não joguei fora a chave de casa ou a credencial da Expo. Agora é arranjar outro cartão do banco e, quando chegar no Brasil, enfrentar a fila do 'Perde-tempo' pra tirar outro documento.

Você, leitor solidário, já fez algo estúpido assim? Conta aí e contribua para que eu me sinta melhor.

Até a próxima presepada na China.

Frô.

P.S.: O jogo da Alemanha foi 1x0, só que para a Sérvia! E eu perdi a chance de consolar os pobres alemães carentes no bar!!!

Assisti o jogo amanhã

* Postado originalmente em 16/06/2010 no morandonacabeca.typepad.com

Acabei de assistir o jogo amanhã. No amanhã daí, porque aqui já é amanhã. Hoje, que é hoje aí, pra mim daqui o hoje daí já é ontem aqui.

Contextualizando: hoje, dia 16/6, agora, 5:30 da manhã. Acabei de assistir o jogo Brasil X Coréia do Norte aqui na China. O jogo aconteceu no dia 15/6 às 20:30 horas em Johannesburgo e passou no Brasil no dia 15/6 as 3:30 da tarde. E eu e a galera aqui de olho puxado vimos a transmissão ao vivo um dia na frente, no dia 16.

Estranho isso. Coisa maluca. É uma zona. Tenho que ficar sempre pensando 10 vezes antes de me tocar que dia é aí e que horas são.

Essa semana (dia 15) acordei de manhã e entrei no Orkut (que o pessoal da censura aqui da China não descubra, senão o Orkut vai pro saco igual ao Facebook). Lá estava um recado que o aniversário da minha amiga seria no dia seguinte. Pensei com os meus botões "Não posso esquecer da data, amanhã tenho que dar os parabéns pra ela". Fechei o Orkut e me envolvi nos assuntos do dia-a-dia do meu trabalho. De noite chego em casa e checo os e-mails, aproveito a falta do que fazer e entro no Orkut de novo. Lá estava o recado do aniversário da minha amiga, mas o aniversário era HOJE. Liguei logo, cedo, e dei parabéns (cedo daí, tarde daqui). Explicando: o aniversário dela era mesmo no dia 15 de Junho, mas quando entrei no Orkut de manhã do dia 15 daqui ainda era dia 14 no Brasil. Eu aqui com tanto cuidado e quase que deixo passar a data do aniversário da minha amiga.

Enfim, voltando ao jogo: que papagaiada! Mesmo assim, torci muito. Não ligo pra futebol, nem torço pra time nenhum no Brasil, mas Copa é Copa. Nem digo "Seleção é Seleção" porque não é bem isso. Meu negócio é assistir a Copa do Mundo - no bar, com cerveja, como deve ser feito.
Aqui na China a brasileirada se amontoou no Latina, uma churrascaria brasileira. Mesmo com a Seleção dormindo no primeiro tempo, rolou jogo regado com capirinha. E eu lá no meio dos "uuuhhh-quase-corre-vaaaaai-chuuuta", me sentindo em casa. Esse negócio de torcer pra Seleção é algo que a gente traz dentro do peito desde quando somos crianças. Vai entender a nossa paixão em época de Copa mesmo entre os brasileiros que como eu que não ligam pra futebol.

Foi um joguinho de pernas de pau mas tá valendo: 2X1. Valeu a estréia, valeu a galera, valeu o clima brasileiro, valeu o samba no intervalo, valeeeeeeu Seleção!

Agora é esperar o pró
ximo jogo e torcer.

E eu fico por aqui, pra viver e contar. Mas estou ansiosa para as oitavas, que vou ver lá do Brasil mesmo, no Jacaré na Vila... vamo que vamo.

Beijos,

Frô.

Com que roupa eu vou?


* Postado originalmente em 14/06/2010 no morandonacabeca.typepad.com


Se os chineses se perguntassem isso de manhã não veríamos tanta barbaridade. Andando pelas ruas você percebe claramente que os chineses (principalmente as chinesas) tem um gosto muito peculiar para moda. Sei que Xangai é uma cidade internacional e cosmopolita e, como acontece em outras grandes cidades do mundo, as pessoas se expressam através de suas roupas e muitas vezes de forma diferente e chocante.

O que choca não é ver vez ou outra uma pessoa vestindo algo estranho mas sim a quantidade de chinesas que se vestem como se realmente fossem de outro planeta.

Como este assunto é difícil de se expressar em palavras, montei aqui um exemplo:

Montagem copy

1- Chapéu: as chinesas morrem de medo do sol. Pra elas pele bronzeada é sinal de pobreza, como a pele das camponesas que têm que trabalhar na lavoura. Além do chapéu, é comum vê-las com sombrinhas ou manga comprida em pleno verão de sol-a-pino. Também é comum ver cosméticos para clarear a pele.

2 - Cílios postiços e lentes de contato: pra tudo, até pra ir na academia ou pra feira.

3 - Máscaras: mais comum no inverno. Na primeira vez que vi achei que aqui fosse uma terra governada pelas bactérias e que só de por a cara na rua já se pegava uma gripe. Não é assim não, mas vai ver que os chineses tem alguma neura de vírus. O legal são essas máscaras com desenhinhos - super criativas.

4 - Unhas postiças: coisa mais brega. Elas usam essas unhas compridas e super coloridas. Colocam strass e outros penduricalhos. Como os celulares também são cheios de strass e bichinhos, as vezes até dói a vista ficar olhando.

5 - Roupas de frufru: elas têm mania de querer parecer menininhas. Usam roupas cheias de laços, rendas, brilho - parece que estou dentro de um desenho do shrek com ogros e princesas no mesmo conto de fadas.

6 - Micro-saias: sim, são assim curtas mesmo. No shopping, no metrô e até no escritório. Mas é normal, não se vê chinês fazendo "fiu-fiu" ou "barulho de chupar cana" por aí. Muitas vezes as micro-saias vêm acompanhadas das meia-calças mais loucas do mundo. Tem estudante universitária no Brasil que ia estar na moda por aqui.

7- Calça de bebê com abertura: essa merecia um post inteiro. Quer atitude mais ecológica? Fraldas descartáveis não estão com nada por aqui. Se você ainda está se perguntando "Como assim?", a resposta é simples: é assim mesmo. As crianças são criadas livres para fazer as necessidades na rua, ou onde a mãe natureza mandar.

8 - Meias: ai, que desespero. Fora o fato das meias e sapatos serem péssimos, as chinesas conseguem juntar o pior sapato com a pior meia e usar de forma totalmente sem noção. Meia fina curta com short ou saia é normal. Usar com sandália também é moda.

Fala sério, a Stacy e o Clinton do Esquadrão da Moda iriam ter matéria até se aposentar por aqui. E tem muito mais que nem caberia no post - como as calças santropeito, as armações de óculos sem lentes, as bijuterias bregas, as camisetas com mensagens em "chinglish", os cabelos super diferentes (talvez um dia eu escreva sobre isso)... assunto é o que não falta.

Bom, vou ficar por aqui na China observando tudo e reportando.

Até a próxima.

Frô.

P.S.: apesar da foto ser uma montagem, é fácil ver pessoas exatamente assim nas ruas, mas como eu não sou a tiradora-de-fotos-mais-rápida-do-oeste eu nunca consigo tirar fotos boas pra mostrar pra vocês - tem que vir aqui e ver pra crer.


Tá com sede? Bebeu água?


* Postado originalmente em 09/06/2010 no morandonacabeca.typepad.com


Só pra dizer que deu tudo certo no show do Carlinhos Brown semana passada.
Vi por aí umas notícias e tem até vídeo na Folha Online. Aqui na China teve bastante cobertura da mídia também (tem vídeo aqui da CCTV e aqui da ICS).

Eu sempre quis assistir um show do Brown, mas nunca pensei que eu fosse chegar a produzir o show. Pra mim foi um grande desafio, ainda na China (meu mandarim é equivalente ao de uma criança de um ano) e dentro da Expo: o lugar mais complicado, burocrático e com mais regras sem sentido do mundo.

Mas valeu, e muito! Primeiro porque o evento era parte da comemoração do Dia do Brasil na Expo. Pra mim estar na organização é um super orgulho. Segundo porque o show foi IN-CRI-VEL. A comunidade brasileira aqui aproveitou, cantou, dançou, pulou e se divertiu. Mas confesso que a minha surpresa foi ver como os chineses reagiram: eles são normalmente tímidos e não demonstram entusiasmo por quase nada, mas o Brown conseguiu levantar todo mundo, sem exceção (com "ç" ou "ss"?). A platéia cantava, rebolava, batia palma - fato quase inédito. Fora que o danado ainda desceu na platéia e puxou um trenzinho em volta das cadeiras do teatro. Acho que se eu não tivesse alertado os seguranças antes eles iriam morrer do coração: onde já se viu artista ficar correndo pela platéia?

Com todo mundo empolgado, o Brown ficou mais no palco do que o pessoal da China nos autorizou, e eles já estavam com cara amarrada do lado do palco esperando acabar quando o Brown apertou a mão de cada um deles e falou "xie-xie (obrigado em Chinês)" pra eles.

Já sabem com quem contar quando precisarem de uma produtora, né? Depois dessa organizo evento até na lua.

Beijos, volto em breve.

Frô.

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Brown e a produtora do show.


O luau dos sapos cantores


* Postado originalmente em 21/05/2010 no morandonacabeca.typepad.com


Singing frogs

Voltando a todo vapor. Escrevendo do taxi pra ganhar tempo.

Olha a última que aconteceu comigo: dois dias atrás minha amiga que mora comigo me ligou e pediu se dois outros amigos podiam dormir em casa, pois eles iam viajar cedo no dia seguinte e já tinham devolvido o apartamento deles. Eu concordei, sem problemas. Mais tarde um deles me ligou agradecendo muito e perguntando se tudo bem mesmo. Sem problemas, são todos bem vindos.

Eu trabalhando igual camelo ainda na Expo recebo uma ligação dessa minha amiga: "Lú, não tem luz em casa!" - eu imediatamente lembrei das contas de luz que se acumularam em cima da minha escrivaninha e pensei "Putz, cortaram a luz". Que mico! Meu amigo que me agradeceu tanto vai ter que tomar banho frio.

Explicando: eu não tive tempo de pagar as minhas contas de luz antes da Expo começar. E eu não me preocupei pois sempre ouvi histórias de que a compania de luz envia cobradores para receber as contas vencidas e que eles só cortam mesmo o serviço depois de um ano. Pensando bem acho que recebi um desses cobradores em casa. Era um cara esquisito, mal encarado que falava em "chingling" e eu não entendi nada e fechei a porta na cara dele.

Como as contas estão em chinês, uma busca na internet trouxe a solução: só é possível pagar contas vencidas na concessionária. Pra chegar em uma basta mostrar a verso da conta com os endereços para o taxista que ele te leva ao mais próximo. Como o meu chinês não é o suficiente para dizer "o mais perto", o fdp do motorista me levou pra onde o Judas perdeu as botas. Paguei todas as contas.

Apesar de ainda estar no escuro - a não ser pelas lanternas que a minha amiga comprou e deixou a casa em clima de luau - eu estava feliz até uma amiga lembrar que talvez eu ainda tivesse que pedir para religar a luz mesmo tendo pago as contas. Como não consegui suporte em inglês por telefone, fui até o escritório da corretora e encontrei um chinezinho que falava inglês. Depois de ir a concessionária de novo (dessa vez a que fica perto da minha casa), o chinezinho ligou para o número no verso da conta e me disse que acha que eu já tenho luz em casa pois eles ligariam automaticamente depois de 24 horas do pagamento.

No meio dessa confusão toda ainda teve o concerto dos sapos cantores do condomínio - eu moro no sétimo andar e ainda escuto eles cantarem toda noite, e agora, sem poder tocar uma musiquinha no apê, esse era o único som que nos acompanhava.

Que aventura! Até ficar sem luz na China rende um post.

Falando em concerto e em cantores, estou produzindo o show do Carlinhos Brown aqui na China. Uma experiência totalmente nova pra mim. Estou aprendendo muito e gostando: um novo leque de oportunidades se abre na minha frente.

Bom, volto depois para contar as novidades.

Um abraço no escurinho,

Frô.


Ligando os pontos


* Postado originalmente em 16/05/2010 no morandonacabeca.typepad.com

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A vida é cheia de conexões. Nossas vidas estão interligadas por fatos e por uma energia mística que às vezes é erroneamente chamada de coincidência. Sabe aquela brincadeira do antigo "Almanacão de Férias da Turma da Mônica" que tinham pontos isolados que não faziam nenhum sentido e quando ligávamos os pontos, uma figura aparecia? Então, nossa vida é assim, ligando os pontos as coisas fazem mais sentido.

O universo tem ligado os pontos na minha vida recentemente:

- Outro dia recebi uma ligação, no meio do dia, assim, do nada. Era o vizinho da minha hostmother nos Estados Unidos. Ele estava em uma viagem de negócios em Xangai e me ligou. Tive que ligar os pontos na minha mente enquanto ele explicava quem era ele. Fiquei surpresa com a ligação, afinal, fazia mais de 4 anos que eu não falava com ele e, mesmo antes disso, nossas conversas se resumiam em um "Bom dia" de vizinhos. Acabamos jantando e tendo uma conversa muito agradável.

- Já percebeu como mudamos de assunto durante uma conversa? Bom, eu estava tomando vinho na casa da minha amiga alemã e ela lendo revista. Era uma reportagem sobre condomínios de casas que tem uma super segurança na porta, que as vezes parece até uma prisão. Eu comentei que perto de onde eu morava (Alphaville) quase toda a cidade era assim, e, para exemplificar, liguei o Google Earth. Aproveitamos para dar um pulo em Colônia na Alemanha para ela me mostrar a casa dela. Falamos sobre a vizinhança, os parques e o dia-a-dia na cidade. De lá eu quis mostrar Ilhabela, um lugar que eu gosto muito. Visitamos todas as praias e eu aproveitei pra mostrar umas fotos de lá no meu Orkut, e ela viu uma foto do Renê Nunes. Ligando todos esses pontos, no final estávamos as duas no My Space dele ouvindo as músicas - e bebendo vinho.

- Sabe o Fantástico homem de smoking? Então, sumiu, desapareceu, virou fumaça. Fico ligando os pontos na minha cabeça para entender algo que no fundo é simples, como no filme: Ele não está tão afim de mim. Paciência. Tô eu aqui esperando o universo mexer os pauzinhos para colocar o próximo amor na minha vida. À propósito, ele só estava de smoking para a despedida mesmo. Ele disse que era uma brincadeira, que ele estava fazendo as malas e ficou com dó de colocar o smoking lá dentro porque ia amassar, então ele simplesmente vestiu. Pra quem ainda tá curioso, a foto dele tá no meu orkut.

- Falei do chinês que eu encontrei no ônibus outro dia? Sentei do lado dele e, em inglês, ele perguntou se eu trabalhava para a Expo. Quando eu falei que era para o pavilhão do Brasil ele ficou encantado. Ele ligou os pontos e soltou um "Você é uma gata!" em português. Que fofo. Ele disse que já foi várias vezes ao Brasil, que conhecia 'Belo Minas', 'San Palo', 'Salvade' e vários outros lugares. Ele estava tão feliz de falar comigo que ligou para o advogado dele, um brasileiro que mora em Pequim. Eu, sem graça, falei com ele e trocamos telefones. Alguns dias atrás esse brasileiro me ligou, dizendo que estava dentro da Expo. Encontrei com ele e mostrei o pavilhão. Na saída fui abordada por dezenas de chineses que queriam tirar uma foto comigo, falando " xin-xao-xin-xao-xin-xao-xin-xao" - que pra mim deve ser algo do tipo "olha-ali-uma-ET-de-pele-escura-vamos-tirar-foto".

- Estou usando esmalte vermelho. Para mim isso é uma grande vitória. Conversando com amigos ouvi que as pessoas normalmente ligam os pontos e assimilam a unha vermelha com poder. Pra mim sempre foi estranho porque eu sempre tive a impressão que unha vermelha não passava uma imagem profissional - claro que isso foi colocado na minha cabeça por um ex-chefe neurótico que provavelmente se sente ameaçado por mulheres poderosas. Acho que estar próxima dos 30 anos me dá o direito de usar esmalte vermelho: por incrível que pareça, pela primeira vez na vida. A China me transformando.

Os próximos pontos que irei ligar na minha vida são os de conexão de vôos. Me aguardem: Dia 10 de Junho desembarco em Sampa para uma sessão de terapia de bar regada à chopp: na Vila Madalena, é claro!

Até breve,

Frô.


O milionário Rei Macaco


* Postado originalmente em 09/05/2010 no morandonacabeca.typepad.com

Macaco Rei na World Expo

A Jornada ao Oeste é uma antiga estória chinesa sobre as aventuras do Rei Macaco, Buda e seus amigos em viagens pela China (mais no wikipédia). Em 1963 o artista tcheco Zdeněk Sklenář viajou para a China e fez vários desenhos sobre estas aventuras, as deixando expostas em sua galeria em Praga. Em 1990 seu neto, de mesmo nome, montou uma galeria para expor estes e outros trabalhos. Este por sua vez, também artista, foi convidado pelo governo tcheco para fazer um filme de animação sobre o Rei Macaco e montar uma exposição com as obras de seu avô em um espaço dentro do Pavilhão da República Tcheca na Expo Xangai 2010. E aí que eu entro na história.

Semana passada, cansada de comer as mesmas junk-food de sempre, fui convidada pela minha amiga alemã para almoçar com outro amigo dela em um restaurante na Expo. Entramos por curiosidade no restaurante do Pavilhão Tcheco que, para a alegria dela, tinha pratos muito parecidos com a culinária alemã, e de fato eram deliciosos. Depois de muito papo e goulashes, estamos de saída do restaurante quando ela vê um homem comendo algo que parecia uma panqueca de batatas. Salivando, ela pergunta para o homem se aquilo era um "bolo de batata" e o homem responde que sim. Ele pede para provarmos o prato e, mesmo estando satisfeitas depois do almoço, não conseguimos dizer não para o homem que ria de orelha a orelha e, com as próprias mãos, partia o bolo de batata e insistia para comermos.

Começamos a conversar e o homem não se continha de tanta felicidade. O fato é que ele era Zdeněk Sklenář Neto, responsável pela mostra do Rei Macaco dentro do pavilhão tcheco (até então eu nunca tinha ouvido falar em tal estória). Bom, para uma pessoa normal, já é felicidade o bastante participar com uma mostra na World Expo, mostrar seu trabalho de animação, promover sua pequena galeria em Praga e ainda expor os quadros de seu avô da série do Rei Macaco - isso sem contar o prazer que ele sentia em dividir conosco o bolo de batata. Mas Sklenář tinha um motivo especial para estar tão feliz.

Acontece que dias antes executivos da CCTV (uma das maiores redes de TV da China) visitaram o espaço e se encantaram com a animação do Rei Macaco. Gostaram tanto que assinaram um contrato com Sklenář por cinco anos para exibir a animação em rede nacional por 30 milhões de yuans (aprox. 5 milhões de reais) e ainda compraram pequenos livros com o desenho: 15 milhões de exemplares a 15 yuan cada (mais 57 milhões de reais). O homem não conseguia nem imaginar quantas Coroas Tchecas era aquilo tudo, a ficha ainda estava caindo. MI-LI-O-NA-RI-O!!!

Bom, pedimos para ele tocar em nossos braços para nos passar sorte. Ele entrou correndo no pavilhão e foi buscar os cartões de visita da sua pequena galeria em Praga e nos convidou para visitá-lo em nossa próxima viagem para Tcheca. Ele também trouxe máscaras do Rei Macaco como brinde. Ele me pareceu um homem de bom coração. Este encontro com ele foi um momento mágico.

Saímos do restaurante (não sem antes comer mais do bolo de batata das mãos do insistente novo milionário) e fomos ver a mostra no Pavilhão Tcheco. Os desenhos mesmo muito bonitos. Ainda aproveitei para tirar uma foto com a minha máscara (no topo deste post).

Se existisse uma "moral da história" para este post acho que seria algo como: sonhe, se orgulhe dos seus antepassados, arrisque, viva plenamente e divida o seu bolo de batata com estranhos!

Beijos,

Frô.


O fantástico homem de smoking


* Postado originalmente em 08/05/2010 no morandonacabeca.typepad.com

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Sim, estou viva. Dia 8 de Maio na China e eu estou de FOLGA! A Expo abriu, apesar do stress deu tudo certo.

Recebi várias mensagens de amigos dizendo que viram reportagens sobre a abertura da World Expo em Xangai. É, é grande mesmo. Sim, tem muito chinês. Mas só estando aqui mesmo pra saber como é. Quando eu digo que a Expo é o maior evento do mundo fica difícil de imaginar.

Soube que saíram reportagens sobre a abertura e o Pavilhão do Brasil no Fantástico (veja aqui, ainda na época de construção), no Jornal Hoje (aqui e aqui) e até na BBC de Londres (aqui). Também tem fotos legais no site do Washington Post (aqui). Meus amigos e familiares dizem que estão orgulhosos de mim. Eu também estou (modesta!!! haha). Mãe, falei que ia ser bom eu vir pra China. Vale a pena enfrentar o novo.

Quanto ao homem de smoking... bem, esta é uma estória a parte. Há uns 10 dias fui encontrar o meu francês preferido no aeroporto. Coração apertado, afinal, Paris não fica ali na esquina. É claro que tive que ficar trabalhando até tarde, já que ainda era antes da abertura do evento e tudo tava bem atrasado. Saí correndo da Expo e fui para o bendito-aeroporto-que-fica-na-pqp-do-fim-do-mundo. Cheguei lá e liguei pra ele. Ele estava na fila do check-in ainda. Quase morri do coração quando o vi - ele estava liiiiiiindo, vestindo um smoking. Fala a verdade: a pessoa me faz ficar apaixonada, me avisa que tem que voltar pra Paris e eu já com o coração-na-boca-nó-na-garganta-borboleta-no-estômago-tripa-de-fora e ele ainda me aparece no aeroporto de smoking! Me enrosquei toda nele igual a Felícia do lonely-tunes e não queria deixar ele ir embora. Mas ele foi, mesmo sem eu deixar. Agora ele está em Paris e eu aqui. Mesmo com os planos de eu ir pra lá em Junho e ele voltar para Xangai em dezembro é difícil encarar que ele entrou mesmo naquele avião - e de smoking!!!

Agora é encarar a China e voltar depois pra trazer mais novidades pra vocês.

Beijins,

Frô.

A vida é cheia de som


* Postado originalmente em 05/04/2010 no morandonacabeca.typepad.com

Babies_headphones

Voltando.

Estou em Hong Kong, curtindo um feriado suuuper longo de páscoa. Feriado forçado já que o Consulado Chinês está fechado e eu preciso de um visto para voltar para Xangai. De qualquer forma estou curtindo, ainda bem que existe o CouchSurfing(1) pra eu não ficar sozinha aqui, já rolou até guerra de travesseiros.

Eu ia pra Disney mais desisti. Olhei o site e achei tudo muito infantil (e meio babaca).

Todos atualizados, vamos ao post:

A vida é cheia de sons. Pássaros de manhã (em Barueri, claro, porque aqui em Hong Kong ou em Xangai eu nem sei se tem pássaros: ou se afastam por causa da poluição ou acabam no prato de alguém); o abrir de um pacote de biscoitos; o toque do celular; a po# da buzina dos bilhões de motoqueiros; bexigas sendo manipuladas(2); a voz irritante do seu amigo chinês que acha que tá abafando no karaokê; o "bon jour" do seu amor (apaixonado é um ser besta,um trouxa uma flor roxa mesmo); e claro, música.

Tem música nova, música velha, música engraçada, música boa, música ruim e música péssima:

- Nova: Fui em uma balada de música africana ontem, ó-te-ma, me diverti horrores, claro que só dava eu e os africanos, a gringaiada toda sem ginga, haha.

- Velha: Vi hoje um vídeo de 92 do Abujamra cantando "Pense em mim" com a banda Vexame.

- Engraçada: Falando em Abujamra, ouvi hoje a música "Curriculum" (no facebook dele do lado esquerdo dá pra ouvir). É uma autobiografia cantada. Super original. Ele é uma figura. Vale a pena ver de novo o "Uma vez" e "O infinito de pé" também.

- Boa: Tem uma banda de jazz brasileira em Xangai que arrasa. A cantora se chama Veridiana Nascimento e tem uma voz linda! Muito, muito, muito boa.

- Ruim: Ainda bem que acabou o ano novo chinês, ninguém merece a musiquinha de ano novo que tocou um bilhão de vezes - gong xi, gong xi, gong xi -, muito menos a voz aguda da cantora (vale ver essa versão da chinesinha fofa).

- Péssima: Vi hoje o vídeo do youtube da professora "toda enfiada". Desculpe o trocadilho, mas fiquei debaixo-da-galinha-total (CHO-CA-DA!!!). Aquilo é um SHOW DE HORROR. Dá vergonha de ver, até de mencionar aqui. Ponto.

Pra quem não sabe eu estou em uma missão: renovar o meu arquivo de mp3. Devido a um acontecimento recente(3) perdi grande parte do meu arquivo de músicas no meu mp3 player. Sabe que isso até foi bom? Percebi como eu mudei de gosto e que tinha muita coisa que precisava ser apagada mesmo. Fuçando na internet para baixar algumas preciosidades com valor sentimental pra mim achei muita coisa nova e boa. Bom, né? Eu estava meio fechada no meu mundinho ouvindo as minhas mesmas músicas de sempre dentro do meu quadrado.

É engraçado também como juntamos lixo musical. Coisas que eu nem sei como foram parar lá (Miley Cyrus? Hansons? Thalia? Fala sério. Era 'síndrome de Peter Pan'?)

Enfim, me sinto renovada! Montando uma nova trilha sonora para a minha vida daqui pra frente. Vou procurar fazer esse exercício sempre.

Um grande abraço bem sonoro (imaginem o que quiserem),

Frô.


Notas do editor:

(1) CouchSurfing (do site oficial): CouchSurfing é uma plataforma de network internacional sem fins lucrativos que conecta viajantes com as comunidades locais em mais de 230 países e territórios ao redor do mundo. Desde 2004, membros usam o sistema buscando intercâmbio cultural, amizades e o troca de experiências. Hoje mais de um milhão de pessoas, que poderiam nunca ter se conhecido, podem compartilhar hospitalidade e cultura..." (mais no wikipedia).

(2) Historinha à parte: estava indo pra uma festa de aniversário aqui em Hong Kong com a galera do CouchSurfing e entramos todos no vagão do metrô. Um deles quis fazer uma supresa para a aniversariante e tirou do bolso aqueles balões compridos de moldar, de fazer cachorrinhos e tals. Ele tinha até uma bombinha de encher, chique-no-úrtimo. O detalhe é que o barulho da bexiga (sabe? quando você passa do dedo em uma bexiga cheia?) era de arrepiar. E ele demorou pra conseguir fazer a tal da flor. Estávamos sendo torturados! Nós e todos do trem. No final ele deu a flor para a aniversariante e, de joelhos, colocou um nariz de palhaço e tocou 'Parabéns pra você' com um apito. (Ah Mulher Polvo, pra você que é do Rio, eu tô falando de balão de gás, não de ferida).

(3) Hoje sou usuária de Mac e a sem noção da Sony não presta nem pra fazer uma versão do software do walkman compatível para nós, desertores de windows.

(4) Gaguega, eu sei que esse typepad é o Ó do Borogodó (ai, ai) pra comentar, mas valeu a visita. Qualquer coisa comenta lá no kut.



Operação Canela!


* Postado originalmente em 28/03/2010 no morandonacabeca.typepad.com

Canela 2

Tudo bem por aqui na terra do sol nascente. Bem MEEESMO, ainda mais depois da cooperação cultural Brazil-França que tem acontecido na minha vida.

Estou curtindo cada momento (apesar de não ter muitos momentos livres - faltam 34 dias para a Expo!).

Semana passada decidi fazer bolinhos de chuva. Já estava com vontade de comer esses bolinhos há um tempão. Bom, fui no mercado (com a ajuda do meu francês preferido).

Listinha curta na mão: só me faltavam ovos, fermento, banana e canela em pó. Simples não? Eu diria que essa tarefa não é fácil nem aqui e nem na China (haha, não podia perder essa piada pronta!).

Já entramos no mercado ao ritmo de missão impossível (tã - tã - tããm! tã - tã - tããm: L'opération cannelle!).

- Primeira etapa: ovos. Não, de pato não, de galinha. Aff, ovo verde, quimicamente apodrecido... não, não serve. Ah, ovos de galinha, finalmente. Porque tem alguns bem mais caros do que outros? Explicado: data de "fabricação" antiga. Peguei uma caixa pequena com a data mais recente - também era uma das mais caras.

- Segunda etapa: fermento. Onde estará? Por favor, o "baking powder"? Ahn? Buxi, Meila, Wo tim... ou seja lá o que for que eles respondiam, o fato é que eles nem sabiam o que era fermento e a mímica não funcionava (como se faz uma mímica de fermento? Viciados em "Imagem & Ação" me ajudem? Cadê os universitários?). Bom, vamos para as farinhas então. Ah! Vai ver as farinhas já vem com fermento, como nos Estados Unidos. Lê aí os desenhinhos e vê se diz alguma coisa. Esse que parece um barquinho, é o que? E esse do menino empinando pipa? Ah, isso é fritura? O que tem a ver fritura com o menino empinando pipa? Bom, parece que a farinha não tem fermento pois o que o francês entendeu dos desenhinhos era que tinha uma receita para fazer os bolinhos de porco, mas não parecia que a farinha que já vinha com fermento. Hum... olha, um pacotinho pequeno. Deve ser fermento. O que diz? Yeast? O que é isso? Se a gente não consegue nem saber o que tá escrito em inglês, quanto mais em chinês. Bom, vamos levar o 'Yeast' mesmo que depois o Santo Google nos ajuda.

- Terceira etapa: banana. Vou pegar essas grandes aqui, devem ser as nanicas (nunca entendi porque a banana nanica é maior do que as outras). Não adianta escolher muito mesmo, aqui banana tem tudo o mesmo gosto... gosto de banana sem açúcar. E cheias de conservantes. Duram uma eternidade. Ok, vamos para a última etapa.

- Última etapa: CANELA (tã - tã - tããm! tã - tã - tããm: L'opération cannelle!). Imagine o francês imitando o super-homem-Tom-Cruise-homem-codorna-cueca. Haha, hilário. Nunca comprar canela foi tão divertido. O problema é que eu nunca vi canela em pó aqui neste planeta. Só canela em pau. Já estava pensando em comprar um desses trituradores de pimenta para transformar canela em pau em canela em pó. Já sei: tem canela em pó no Starbucks, a gente pode ir lá e pegar um pouco. Não? Ok, foi mal. Ufff, o que fazer? Vamos na sessão de importados e... olha... um potinho.. veja se não é... CANELA! Eêê. LA CANNELLE. Mission accomplished! Rápido, pegue o potinho antes que os outros quase 2 bilhões de chineses o vejam. É o último? Não acredito. O que? Custa 10x mais do que a canela em pau (traduzinho: 6 reais)? Tudo bem, tá valendo, estou feliz, FELIZ, F-E-L-I-Z!!!! Eu tenho a força canela! Não, francês, não brinca com isso, não, não joga pro alto, isso é precioso. Põe aqui na cestinha, põe. Isso, bom menino.

Fui feliz para a casa preparar os bolinhos. Briguei um pouco com o fogão: como assim não tem fogo baixo? Tá maluco, fogão? Assim os meus bolinhos estão ficando crus por dentro (Crus? Credo, que palavra feia, cruz-credo). Qual é, fogão? Ajuda aí. Vou por esse troço de ferro aqui embaixo da panela. É pra isso que serve? Parece um elevador-de-panela-para-fogões-chineses-que-não-tem-fogo-baixo. Eba! Funcionou! Bolinhos de chuva saindo! Não estão crus por dentro. Francês, prova aí! Expectativa... ele vai dar o veredicto senhoras e senhores... atenção... Huuummmm! Aê, passa por baixo da mesa, haha. Aê, agora sim, MISSAO CUMPRIDA (e comprida!).

Por hora é só, volto depois com mais do planeta China.

Inté,

Frô!


Psicóloga de plantão, paciente também


* Postado originalmente em 14/03/2010 no morandonacabeca.typepad.com

É muito bom ter amigos. Amigos novos ou antigos, perto ou longe, a vida fica bem melhor com eles.

Eu sou uma amiga desnaturada porque não tenho muito tempo para conversar com as pessoas que eu gosto, principalmente as que estão longe.

Sinto falta das sessões de terapia entre amigos. Falar e escutar, analisar e ser analisada. Por e-mail ou skype não é a mesma coisa.

Mesmo assim tenho exercitado essa minha profissão de psicóloga. Meus novos amigos aqui na China tem feito bom uso dos meus ombros e ouvidos: e eu me sinto muito bem com essa troca de confidências assim tão rápido, é como se fosse um processo necessário para a minha adaptação aqui.

O gozado é que os assuntos não mudam: amores, amigos, trabalho, tristezas e alegrias. Parece que ainda estou no Brasil.

Eu também tenho feito bom uso dos meus amigos-psicólogos. Vocês leitores, amigos distantes, também podem participar. Vou deixar aqui algumas das minhas ponderações:

- Futuro: uma das coisas que mais penso. A velha questão do "Não sei se caso ou compro uma bicicleta". Penso em ficar fora do Brasil por mais um tempo e minhas opções no futuro seriam França, Irlanda, Londres ou Coréia. Fico repensando tudo como pode ser no futuro, o tempo inteiro. Gosto de Xangai mas acho que o mundo é grande demais para me prender aqui.

- Família: Muitas coisas estão acontecendo com a minha família no Brasil. Sempre me comunico, mas a distância é grande agora. Penso como vai ser minha própria família: marido, filhos, casa (onde será?).

- Carreira: Gosto de trabalhar com eventos e penso em continuar nessa carreira, mas essa vida global abre muitas portas e não sei onde estarei no futuro, por enquanto estou feliz com a minha carreira e as minhas escolhas.

- Amores: Conversando com uma amiga nova, tive que atualizá-la do meu histórico (é gozado, as minhas amigas antigas já sabem todas estas histórias e ter amigas novas próximas requer um rápido flash back). Nossa, como eu já vivi, já amei! E quero amar ainda muito mais! Que venham os amores globais (ou locais).

- Comportamento: Mudando. Sempre. Estar aqui me faz ver algumas coisas por outros ângulos. Novas pessoas na minha vida me apresentam novos pontos de vista. Estou aprendendo a dizer não, me promover melhor, fazer planos, focar minhas ações e ampliar meu networking. Na vida pessoal estou dando tempo ao tempo, uma conquista por vez.

Psicólogos de plantão: me ajudem! Palpitem, metam a colher, me analisem! Não deixem a distância nos afastar. E não se esqueçam de usar o meu divã também para desabafar, afinal, de médico e louco todo mundo tem um pouco!

Dois Pesos e Duas Medidas

* Postado originalmente em 01/03/2010 no morandonacabeca.typepad.com

Agora acho que entendo essa expressão.


A China até parece outro planeta. Um planeta onde os habitantes são todos meio baixinhos, magros, amarelados, tem cabelos lisos e pretos e olhos meio puxados.


Agora imagine um ser mais alto, meio gordinho, com pele escura, cabelos encaracolados, nariz de batata e olhos grandes no meio desses habitantes – é, sou eu, praticamente um E.T.


Tudo aqui tem dois pesos e duas medidas: a do planeta local e a dos E.T.s (estrangeiros):


- Cabo de vassoura: nunca dei importância para isso na minha vida, mas acreditem, o cabo de vassoura do Planeta China é muito curto e me dá dor nas costas.


- Sapatos: Os pés dos habitantes locais são pequenos, os sapatos também. Eu com os meus lindos sapatos de salto número 38, todos com algum tipo de abertura – e claro impróprios para o frio desta nebulosa – precisei comprar sapatos com urgência, principalmente depois que o salto da minha bota quebrou. Aqui o meu número é 40, maior que a maioria, meio difícil de achar.


- Balança: as chinesas são magrinhas. Acho que o DNA destes seres é diferente do nosso. Elas comem bastante, e apesar de se ter opções de grelhados e vegetais, a culinária chinesa em geral tem frituras, carne gorda e bastante carboidrato. Fora isso existem redes de fast-food se espalharam aqui neste planeta. Contrariando o cenário daqui, meu peso tá subindo!


- Preços: isso sim varia. Tudo aqui se negocia. Em lugares que tem muitos E.T.s os locais tentam enviar a faca – temos que ficar espertos. Hoje mesmo eu comprei um pente de madeira (por 9 reais) e um chaveiro de escorpião (por 8 reais) em umas barraquinhas em uma área de E.T.s e estava feliz com minhas compras. Alguns metros adiante tinha uma loja de “Tudo por R$ 0,50”. Entrei pra dar uma olhada e encontrei tanto o pente quanto o chaveiro. No geral dá pra encontrar bastante coisa bem barata, basta procurar.


- Chutando: a língua alienígena é muito diferente, então muitas coisas temos que adivinhar os pesos e medidas. Por exemplo: eu não consigo ler as instruções do sabão em pó, então inventei uma medida. Eu também não consigo ler as informações nutricionais dos produtos que eu como (isso até que veio a calhar). Às vezes não entendo quanto custa algum produto (pode apontar, contar nos dedos, fazer mímica... às vezes não rola) daí eu desisto e dou uma nota qualquer pro vendedor.


… e por aí vai.


Pra mim já era meio óbvio que eu ia parecer um E.T. aqui, mas em Xangai você acaba esquecendo que é um ser de outro planeta porque volta e meia você encontra outros E.T.s ou fala com os habitantes locais no idioma do seu planeta, e eles acham normal, já estão acostumados com essa invasão extraterrestre. Mas pode ter certeza: sempre vai acontecer alguma coisa que vai te lembrar que você está a anos-luz de distância de casa.


Volto outra hora com mais deste planeta do sol nascente.


Frô.


Planeta

Eu entre os habitantes locais: E.T.