domingo, 15 de agosto de 2010

Uma questão de curvas


* Postado originalmente em 19/07/2010 no morandonacabeca.typepad.com


Mystery-Solved-Crystal-Renns-Skinny-Pictures-Were-Photoshopped

Essa foto ficou na minha cabeça esse final de semana. Saiu nas manchetes de vários sites, inclusive no do NY Times. Ela é o ponto final de uma discussão sobre "Será que a Crystal Renn emagreceu? Ela não devia ter feito isso". Explicando rapidamente a Crystal Renn é uma modelo GG. Ela, como o seu manequim 42/44, é considerada uma modelo gordinha e tem feito muito sucesso, posando para a capa de revistas como Vogue e Elle e até desfilando para a Chanel e Jean Paul Gaultier.


Crystal começou a carreira de modelo com 14 anos e ouviu de muitos agentes que ela precisaria perder muitos quilos. Ela então ficou obcecada por perder peso e acabou doente, com anorexia. Após ter se curado da doença e voltar a um peso saudável, ela aceitou o seu corpo, virou modelo "gordinha" e escreveu um livro sobre a sua história. Com tudo isso ela virou exemplo de auto-estima e luta contra a ditadura da magreza no mundo da moda.

Primeiro: vamos combinar que uma mulher de manequim 42 não é obesa, mas entendo que é difícil ser uma modelo de sucesso com esse peso. Mas o que mais me deixou grilada é como ela foi criticada por supostamente ter perdido peso (a foto acima, à esquerda, mostra Crystal sem 'retoques' e, à direita, mostra uma foto do mesmo ensaio depois de publicada), ou pior, de tanta gente dar tanta importância ao peso dela. Ou de qualquer outra pessoa. Todo dia tem uma notícia de alguma celebridade que está "muito gorda" ou "muito magra" ou saiu numa foto que apareceu a celulite. Esses sim sãos os verdadeiros vigilantes do peso.

Aqui na China quase não se vê pessoas com sobrepeso, principalmente entre as mulheres jovens. E se você perguntar pra qualquer chinesa magricela se ela quer perder peso, você com certeza vai ouvir um "sim".

Outro dia eu e minha amiga européia estávamos caminhando e ela disse que gostaria de ter as pernas como as da garota à nossa frente. Haviam duas garotas: uma devia ser manequim 36 ou menor - e com pernas super finas - , a outra, 40 - com as pernas até que bonitas, mas não tinha as coxas grossas como nós, latinas. Para o meu espanto, a minha amiga se referia às pernas da mais magra. Sério, eram cambitos. As pernas finas dentro do short pareciam dois badalos dentro de sinos. A minha amiga me contou que ela sempre teve vergonha das pernas e ouvia até dos pais que elas eram feias porque eram grossas, com a expressão "pelo menos são retas". Aquilo a deixou traumatizada até hoje, já uma mulher adulta.

Isso não é um pouco demais?

Não vou chegar a nenhuma conclusão nesse post, mas deixo aqui uma frase da Crystal quando ela teve que esclarecer em uma entrevista que todos podiam ficar tranquilos porque ela não tinha perdido peso (acreditam?):


"Hoje, você pode ver um desfile com várias modelos de manequim 34, e talvez uma mais gordinha - isso significa que você realmente prestou atenção no peso da modelo. Bem, imagine um desfile com modelos de biotipos diferentes: baixas, altas, negras, brancas, asiáticas, todas juntas. Você só verá mulheres bonitas. Não haverá mais discussões sobre peso. Acabou. Essa é a minha visão para a indústria da moda. Talvez você diga que é um sonho muito grande, mas eu não ligo. Eu tenho que acreditar que o que eu digo é importante."

É isso. Vou indo. Já está tarde e eu vou colocar meu corpo cheio de curvas na cama.

Beijos,

Frô.

Um comentário:

Frô disse...

Frô,

Vixe, gente que diferente, manequim 42, eita nóis, pela primeira vez na minha vida escutei entao que sou gorda...kkkk Industria da moda, industria do consumo, eita mundão sem rumo. Nem se dispondo a viver a filosofia do bem estar dá para entender esta insanidade que a indústria do consumo dita para para nós.
Beijos, Bia Santos
Mulher Apaixonante: assim sou, assim serei

* pitaco original de 02/08/2010 no falecido http://morandonacabeca.typepad.com